O segredo dos isolamentos
Joana Gontijo - Lugar Certo - Estado de Minas
Arquitetos e engenheiros se especializam em acústica, entrando em um mercado em que cresce a demanda por maior conforto e privacidade
Fotos: Knauf do Brasil/Divulgação
Chapas de drywall: baixo custo do material aumenta sua presença nas construções
Seja para minimizar os efeitos do som, seja para reforçar sua propagação dentro de um ambiente, arquitetos e engenheiros têm se especializado cada vez mais no ramo de acústica, entrando num mercado que apresenta soluções tecnológicas e acessíveis para quem busca conforto, privacidade e melhores noites de sono. A rotina nas grandes cidades, onde a poluição sonora é problema sério, faz crescer a demanda por esses sistemas em residências e também em locais de convívio profissional ou lazer.
"Em espaços residenciais, comerciais, institucionais, culturais ou fabris, pensar em acústica significa buscar conforto ambiental, adequando cada projeto para cada situação, e para isso existem parâmetros e normas técnicas a serem seguidos", observa o arquiteto especialista em acústica Fábio José Brussolo, sócio do escritório Roberto Thompson Motta. Como explica, a acústica é dividida em duas vertentes: o isolamento e o condicionamento, que diferem os materiais acústicos entre isolantes ou reflectantes e absorventes. "Quando você quer isolar um ambiente, é para o som exterior não entrar e o interior não sair. Já o condicionamento acústico se dá quando se quer distribuir e adequar a reverberação do som internamente em determinado espaço", continua Brussolo.
Para evitar a entrada indesejada de ruídos em imóveis, o isolamento acústico pode ser feito em paredes de alvenaria, com a aplicação de sistemas drywall, janelas, vidros e portas. Em edifícios, o processo pode ser realizado entre pavimentos, a fim de evitar o som proveniente do impacto dos vizinhos de cima. "Para janelas, é importante que não sejam de correr, já que o som pode entrar e sair pelas frestas, e sim com dobradiça ou do tipo basculante. Em relação a vidros, quanto mais espessos, maior o isolamento acústico. Em portas, o ideal é que sejam maciças, e algumas já têm dispositivo de vedação com borrachas que fecham o espaço entre o piso", afirma o arquiteto.
Quando há equipamentos como ar-condicionados ou geradores que causam muito barulho, é prática fazer uma espécie de recipiente em que eles ficam semi-confinados, e, entre pavimentos em um prédio, o isolamento acústico pode ser feito a partir do chão, com a aplicação de uma manta de propileno entre a laje e o contrapiso, tornando o piso flutuante. "Nesse caso, o ideal é que isso fosse feito desde o início da obra, para evitar quebra-quebra, o que já é comum em empreendimentos de alto padrão. Mas há previsão para que, em dois anos, o tratamento acústico entre as lajes seja normatizado para todos os imóveis".
Brussolo explica ainda que o condicionamento acústico, para adequar o som internamente em um ambiente, é feito a partir do revestimento das superfícies com materiais acústicos e não acústicos, de acordo com cada tipo de utilização, calculando o tempo de controle da reverberação do som. "Em cada local essa aplicação varia. Se um ambiente tem uma parte com granito, por exemplo, que é liso e não acústico, a compensação é feita com a distribuição de materiais absorventes, priorizando teto, parede e piso, nessa ordem". Igrejas, cinemas, auditórios, teatros, casas de show, restaurantes, escritórios, salas de apartamentos ou home-teathers são locais onde esses projetos são necessários. Para os forros acústicos, o arquiteto indica revestimento com fibra mineral, gesso acartonado perfurado, colméias de madeira ou PVC. Em paredes, podem ser feitos painéis de tecido, chapas metálicas perfuradas ou ripados espaçados, todos sobre lã de vidro ou rocha. Em pisos, o vinil e os próprios tapetes são materiais que conferem o condicionamento acústico.
Tendência de usar o sistema em espaços comerciais e residenciais tem crescido no Brasil
TÉCNICA
Os sistemas drywall merecem destaque quando se trata de acústica. Mesmo com paredes mais finas, o isolamento e condicionamento do drywall são iguais, e algumas vezes até superior à alvenaria, com mesmo custo de instalação (para uma parede de 1m², R$ 40/m² o valor total, incluindo mão-de-obra, para ambos), e vantagem de ser mais rápido e prático. "Você pode adequar o número de chapas para alcançar a espessura desejada. Quanto mais espessa a parede, maior o isolamento. Como existe um espaço vazio entre elas, a onda sonora não consegue se propagar. O drywall já é largamente aplicado com esta função em cinemas, shoppings centers, hoteis, restaurantes, casas de show, teatros, espaços comerciais e também em residências", pontua o gerente técnico da Knauf do Brasil - multinacional alemã e referência mundial em sistemas de construção a seco -, Omair Zorzi.
Na construção de uma sala com drywall, dependendo de sua especificação, as paredes podem ir de 36 a 50 decibeis de isolamento acústico, sem ultrapassar 12 cm de espessura, enquanto as alvenarias residenciais convencionais ficam em torno de 38 decibeis. Para condicionamento, a empresa acaba de lançar, em dois tipos de design, as chapas Cleaneo Acústico, que, além de promoverem a absorção sonora do ambiente, neutralizam odores. "Pense isso em uma churrascaria, por exemplo. Os sistemas drywall são uma tecnologia antiga, que começa a ser explorada no Brasil agora com mais intensidade, que oferece diversas vantagens, além de ser ecologicamente correta, já que a geração de resíduos é muito menor", completa Zorzi.
O custo para instalar um sistema acústico não é necessariamente alto, continua o especialista Fábio Brussolo. "O arquiteto, ao lado do consultor acústico, deve equacionar a estética e o valor de acordo com a necessidade do cliente, usando a criatividade. Um forro acústico pode ter preço entre R$ 40/m² e R$ 200/m². Quem ainda não dispõe de um sistema assim, deve procurar um consultor, para pensar no projeto antes que a obra comece", orienta.